"Temer não pode se indispor com o Congresso"
No tiroteio entre o Judiciário, o Legislativo e as ruas, Temer precisa aprovar as medidas econômicas para não afundar o governo
Por Márcio Juliboni
Com ministros temendo a delação da Odebrecht e uma recessão econômica profunda, Michel Temer já teria problemas suficientes dentro do próprio Executivo. Mas o fogo cruzado entre o Judiciário, o Congresso e as ruas pode abatê-lo. E é por isso que, goste ou não, Temer precisa fechar um acordo com os parlamentares para aprovar as medidas econômicas que são sua esperança de chegar a 2018 com um mínimo de sossego.
A avaliação é do cientista político Rafael Cortez, da Tendências Consultoria. Veja, a seguir, os principais trechos da conversa com O Antagonista:
O Antagonista: Quanto o conflito entre o Congresso e o Judiciário afeta Temer?
Rafael Cortez: A governabilidade de Temer depende de dois fatores. O primeiro é a pressão dos agentes econômicos para que aprove as medidas fiscais e as reformas. Temer é refém dessa agenda e precisa passá-la, para não tornar seu governo ainda mais turbulento. O segundo é o embate entre o Legislativo e o Judiciário. O presidente não pode se indispor com o Congresso para não afetar a aprovação das medidas econômicas.
O Antagonista: Por outro lado, há uma pressão popular crescente para que Temer vete artigos que distorcem o pacote anticorrupção, e isso não interessa ao Congresso.
Cortez: Tudo vai depender de como isso será encaminhado pelo Senado. Uma possibilidade é que os senadores mexam no pacote enviado pela Câmara. Outra é que retardem a tramitação, a ponto de a matéria não se tornar uma fonte de pressão de curto prazo para o governo. A terceira é que haja um acordo: Temer vetaria as emendas, e o Congresso arcaria com o desgaste de derrubar os vetos.
O Antagonista: Mas o Congresso arcaria com o ônus de derrubar os vetos, diante da impaciência popular?
Cortez: Não vai ser uma costura fácil entre Temer e os parlamentares. A Câmara já experimentou parte desse desgaste, quando as medidas anticorrupção estavam lá. O Congresso pode concordar que Temer vete as emendas, para não desgastar ainda mais o governo. O presidente encontra-se diante de um desafio significativo: sem um bom acordo, a agenda econômica sofrerá. Não digo a PEC do Teto, cuja tramitação está avançada, mas a reforma da Previdência sofreria muito.
O Antagonista: Diante desse cenário, o sr. está otimista com o desfecho da crise?
Cortez: Entre o impeachment de Dilma e 2018, vamos viver uma transição muito complicada. De um lado, há a crise de legitimidade do governo; de outro, a crise econômica. O importante, contudo, é que nenhuma liderança política de vulto está agindo ilegalmente. Por mais difíceis que sejam, os embates entre os três poderes são resolvidos legalmente. Não há crise institucional. Temos normalidade institucional. O que falta, mesmo, é normalidade política. É preciso encontrar um novo equilíbrio entre os vários grupos políticos.
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